terça-feira, 25 de junho de 2013

O Gigante

Nasceu naquela Vila no vigésimo sétimo ano de fundação uma criança diferente. A princípio, era somente um bebê deformado, feio, de feições brutas quase que caricaturais.

Porém conforme a criança crescia, a cada dia percebiam que não era um garoto comum. Com sete anos, era maior do que os garotos de doze. Com dezesseis, tinha quase oito pés de altura, nenhum sapato lhe calçava os pés e sua mãe tinha que fazer suas próprias roupas.

Embora seus pais o amassem, o gigante da vila era temido e odiado pela grande maioria das pessoas. Era alvo de deboche das crianças e de comentários maldosos dos adultos. Mas seu tamanho e sua feiura era diretamente proporcionais à sua inocência e à sua bondade.

A Vila ficava num vale que era rota de viajantes de todos os tipos. Comerciantes, peregrinos, fugitivos e artistas. A presença do Gigante assustava quem passasse pela pequena Vila, então ele tinha que viver escondido. Como era grande demais para ficar dentro de casa, seu pai construiu uma cabana no coração da mata.

Isolado, o Gigante vivia às margens da sociedade. Quase sem contato com o mundo de fora.

Porém por ser uma rota de viajantes, a Vila também era alvo de saqueadores e bandidos, e quando o povo descobriu que a força, o tamanho e fisionomia do Gigante poderiam afugentar os malfeitores, perceberam que poderiam usá-lo para esse fim.

E assim o fizeram. Nos tempos de guerra ou instabilidade, o Gigante era o protetor da vila. Nos tempos de paz e prosperidade, ele era escondido na floresta como um mal necessário, como um segredo sujo que todos conheciam, mas ninguém ousava dizer em voz alta, exceto quando fosse necessário.

E assim ele viveu o primeiro terço da sua vida: isolado, louvado quando necessário, rejeitado quando sem uso.

Apenas mais uma ferramenta social como eu ou você. Apenas.

Um comentário:

  1. Puts... Me encaixei neste texto, há verdades e realidades ainda vividas nos nossos tempos, alguns ainda nos acha " Um mal necessário " mas quando não precisa mais, nos esconde... Ví realidade em vida aqui... cheguei suspirar fundo... tbm enchi os meus olhos de lágrimas... Lindo texto. Bjs

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